Diversão Fora do Padrão

12 de dezembro de 2009



O que fazer com aquela prancha antiga e quebrada, que hoje mais parece um toco velho entulhado em algum canto de garagem ou despensa? Com muita criatividade e alguma disposição é possível reaproveitar o velho bloco empoeirado e transformá-lo em uma prancha inteiramente nova.

Para aqueles que encontram na experimentação uma fonte de prazer, o caminho parece mais do que natural: uma prancha de surf caindo aos pedaços e fora de uso há vários anos, tem o seu ciclo de vida renovado ao ser retalhada, remodelada e transformada em uma nova prancha com design próprio, pronta para ser usada por muitos anos mais.

A proposta funciona especialmente com pranchas grossas - como os modelos antigos - e os longboards, que podem render uma nova prancha mesmo que estejam quebrados ao meio, mais para perto do bico. Isso porque geralmente o shaper irá precisar de alguma margem para poder afinar a espessura da borda.




Na última quinta-feira participei de um destes momentos, numa divertida sessão de surf no sul de Floripa, ao lado do shaper Felipe Siebert, do surfista-ecologista Tomas Oberst e de seu irmão Nicolas. Grandes incentivadores do surf livre e consciente, o trio testou com sucesso o resultado deste processo: uma prancha no mínimo inovadora, que, na falta de um adjetivo correto para defini-la, direi que se trata de uma super-mini-model, retrô-híbrida.



Produzida a partir de um modelo 5`8 clássico da década de 80 confeccionado pelo lendário shaper Machucho, a nova prancha teve sua dimensão reduzida para uma inusitada 4`10 com bico arredondado, mantendo a borda grossa original e ganhando uma combinação de cores marrom e amarela – características que lhe renderam o apelido Machuchinho.



“Esta prancha estava abandonada na casa de uma amiga minha. Cheguei a surfar com ela algumas vezes ao longo dos anos, mas as quilhas foram se quebrando e, no fim das contas, ela já estava com tantos buracos, que nem me animava a remendá-la.”, conta Siebert, que optou então por refazer o shape procurando manter ao máximo os detalhes do modelo original, modificando basicamente apenas o bico.



Para a alegria de todos os participantes e curiosidade dos demais surfistas na praia, a extravagante Machuchinho comportou-se muito bem nas ondas, acelerando bem e manobrando com bastante pressão – a observação unânime foi que, devido ao seu comprimento reduzido, a prancha requer do surfista uma base com os pés mais juntos para proporcionar o melhor desempenho.



Completando a sessão de surf com pranchas “fora do padrão” estavam outras duas criações do Siebert: um longboard 9 pés de madeira de balsa e uma alaia 6`3 que foi surfada com grande perícia pelo Tomas. Como uma criança que acaba de aprender uma nova brincadeira, ele voltava pro outside com um sorriso cada vez maior após completar uma nova onda com este modelo ancestral, que exige uma técnica de surf completamente diferente da habitual (ver post anterior).



Numa realidade onde ainda não existe um sistema de coleta e reciclagem apropriado para as milhares de pranchas velhas esquecidas pelos quatro cantos do planeta, fica a sugestão: leve ela até o seu shaper e proponha a ele transformar o seu toco inútil em uma pranchinha experimental, ou naquilo que a sua imaginação mandar – muitos objetos funcionais podem ser produzidos a partir da reciclagem da matéria-prima das pranchas, o que permite um destino novo até para as pranchnihas mais finas.



Para os shapers, este trabalho de recriar uma prancha deve representar uma diversão pelo desafio técnico e criativo da tarefa. Para o dono da velha/nova prancha, a grande emoção reside na surpresa e da descoberta ao colocá-la na água e testar o seu desempenho nas ondas.

E para aqueles adeptos ao “faça você mesmo”, Felipe Siebert dá algumas dicas básicas de reaproveitamento do shape a partir de sua recente experiência:



- Retire a laminação puxando a fibra a partir de um pequeno corte com um estilete – use uma luva grossa para não se cortar.

- Com uma plaina elétrica, trabalhe a superfície do bloco para ela ficar bem homogênea.



- Para mudar o outline, trace uma nova linha com um lápis e corte com um serrote

- Corrija as imperfeições das bordas com uma lixa grossa comum.



- Trabalhe tirando um pouco do deck e bottom com uma plaina comum para deixar a superfície bem homogênea e por fim corrija as imperfeições das bordas com uma lixa comum grossa.

- A retirada do excesso da longarina pode ser feita com uma mini-plaina manual.

- Leve para laminar com algum profissional e dê preferência a resinas menos nocivas ao meio ambiente.



Créditos:
Surfistas: Nicolas Oberst (machuchinho) e Tomas Oberst (alaia) - Fotos: Felipe Siebert

11 comentários:

Parafina Ecológica Inner Revolution disse...

Excelente! Ótimo texto e iniciativa! Com certeza, reaproveitar velhos tocos e transformá-los em pranchas experimentais, aflorando o prazer de deslizar pelas ondas e não somente mandar a manobra mais crítica, mais maneira! Próxima surf session quero estra presente, com certeza.

Parabéns pelo trabalho,
um abraço
Benny

Anônimo disse...

Surfar com uma prancha reciclada é com um Alaia, testando parafina ecologica foi algo que nunca vou esquecer...
Realmente magico...
REVOLUCIONNN VERDEE NO SUL DA ILHAAAAAA !!!!

Forte abraco Lucianooooo

Felipe Siebert disse...

Belo texto Luciano, essa prancha foi sendo feita a mais de um ano atrás, aos poucos, e ficou meio desacreditada, jogada no canto da sala de laminação.

É engraçado quando tem uma história por trás de algo. Pode não ser a melhor prancha, o melhor shape, mas tem um valor diferente.

Ontem foi o primeiro dia que surfei com ela em uma onda melhor. Andou mais do que eu esperava.

Já quiseram comprar ela antes de eu usar e não aceitei... agora, depois de testa-la, nem pensar... hehe

DaBox disse...

GRANDE INICIATIVA!

QUEM SABE A PARAFINA POSSA FAZER UMA MATÉRIA SOBRE PRANCHAS RECICLADAS! NEM QUE SEJAM SOMENTE "ANTES E DEPOIS"!
O QUE DIZEM?

MAHALO!

Fabio Perroni
www.revistaparafina.com.br

nicolas oberst disse...

saludos a todos !!!!!!!!!!!!!!
muy bueno !!!. sigamos haciendo cosas buenas por el surf y el mundo.
nico oberst

Marcos Titof disse...

meu deus preciso de uma dessas
com quem eu negocio?
auhauha
abraço

Rodrigo ou serei apenas eu? disse...

Sensacional. Mais uma vez o Thomas e o Siebert na vanguarda do novo surf.
Parabéns a o Luciano por estar dandpo abrigo a idéias como essa.
Vamos fazer o mundo melhor e mais inteligente para todos!
A PARAFINA acredita e apoia idéias como essa.
Abraço!

Rodrigo F. de Oliveira
www.revistaparafina.com.br

Anônimo disse...

Po curti muito esse prancha "reciclada", vou ver com o meu shaper de mandar uma tbm!
Po eu tenho um blog de surf e gostaria que vocÊ conhecesse http://gravityagainstme.wordpress.com/
Valeu!

Artthur graeff disse...

essa prancha ai esta de parabéns, foi a melhor fish que eu surfei nos últimos tempos, uma prancha muito divertida que proporciona boas ondas por menores que sejam.

abraço

Guilherme Pedroso disse...

animal! não é a primeira vez que eu vejo o Siebert fazendo um bom trabalho em questão de fabricação de prancha.
rapazeada, quando precisar de alguem pra fazer o registro com uma qualidade legal aqui nas redondezas de floripa, me da um toque guilhermep@gmail.com
abs

fabio disse...

Eu sou colecionador de pranchas antigas. Tenho muitas pranchas aqui desde a decada de 60 até inicio dos 90. Mas não consigo delaminar nenhuma pra fazer um re-shape. Tenho muito apego à história delas e sei que são relíquias. Essa Machucho mesmo da matéria....eu teria comprado facilmente pra reformar...kkkk.

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