Um dia singular

24 de fevereiro de 2010



Nada melhor do que surfar no quintal de casa! Para quem tem o privilégio de se considerar “local” de alguma praia com ondas surfáveis esta frase provavelmente já foi usada, ou ao menos pensada, algumas vezes ao curtir altas ondas num pico e depois poder voltar caminhando para casa. Melhor ainda é poder depois se sentar na varanda após o surf e simplesmente contemplar o espetáculo da natureza proporcionado pelo oceano.



Estas imagens da última terça-feira de carnaval tiradas de frente à casa de praia da minha família em Jaguaruna (SC) ilustram este sentimento. Elas retratam um dia singular em que todos os elementos se harmonizaram para proporcionar ondas pesadas e tubulares, com bom tamanho, abrindo para os dois lados e alisadas pelo vento terral – um mar de sonho, que fechou com chave de ouro uma temporada marcada por boas ondas.

O fato é que, nas poucas horas em que as ondas funcionaram com esta perfeição, não havia nenhum outro lugar no mundo em que gostaria de estar, mesmo que ali, a poucos quilômetros, no Farol de Santa Marta, alguma outra praia oferecesse condições de surf ainda melhores.



Esta premissa de que mesmo viajando os quatro cantos do mundo atrás de ondas perfeitas nada irá superar um dia de boas ondas no quintal de casa, já foi inclusive explorada num filme de mesmo nome. Na minha concepção ela representa a manifestação de um localismo positivo – se é que isso existe! -, onde aprendemos a valorizar aquilo faz parte do nosso dia a dia e se sentir plenamente em casa, rodeado por um cenário familiar.

A verdade é que volta e meia somos capturados por uma imagem alucinante de algum pico desconhecido quebrando perfeito em algum lugar do planeta e imaginamos tratar-se do paraíso surfístico na terra, quando, na realidade, as fotos em questão registram aquele que foi o melhor dia de surf da última década naquele local.

Nada contra a ilusão de viajar nessas imagens de sonho, mas quem corre atrás de pegar ondas perfeitas sabe bem que os dias ruins superam e muito os dias perfeitos, em qualquer praia ao redor do globo - e esta impresivibilidade é uma característica que torna um bom dia de surf tão especial.



Neste contexto, me pego a lembrar, ao longo de tantas temporadas, dos incontáveis dias em que o surf em Jaguaruna foi apenas um “força barra”, em um mar aberto, exposto a mudanças drásticas e constantes de ondulação, ventos fortíssimos e ressacas que podem destruir a bancada (e o surf) por meses a fio.

E ainda assim, eu e mais alguns persistentes continuamos a freqüentar o seu outside em busca desses poucos momentos mágicos que fazem toda a espera e esforço valer a pena. E, no fim das contas, se estas ondas quebrassem perfeitas toda semana, certamente esta praia seria muito mais concorrida do que é hoje.



Fotos: Fabiano Niederauer - revista Soul Surf

3 comentários:

Felipe Siebert disse...

Eu que o diga... usei todo meu tempo livre de janeiro e fevereiro para ficar la na "minha" praia. Peguei altas onde com tudo que é tipo de prancha. Neste período surfei apenas um dia aqui na ilha, um força barra no zinga, pq tava um calor infernal... pfff...

Logo mais eu boto umas fotos do surf no blog... abraço,

André Côrtes disse...

afeto! muito bom poder ter uma relação de afeto com o lugar que vivemos: conviver, conhecer, amar, cuidar, vibrar com cada difereça que , com o tempo, aprendemos a reconhecer, afinal, como disse o poeta: "um surfista olhando o mar: está vendo ou está sendo?" (Pepe Cesar)

Anônimo disse...

Altas ondas !!!!!!

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