Encontro com as Baleias

12 de setembro de 2010



Na última sexta-feira tive a oportunidade de experimentar a sensação de nadar muito próximo a um grupo de baleias francas, que há vários dias passeiam tranquilamente perto da costa na Praia da Solidão em Florianópolis.



O motivo inicial que me levou ao sul da ilha de Santa Catarina era conhecer pessoalmente Paul Mattsson, representante da Wave Tribe, marca norte-americana de acessórios de surf voltados à sustentabilidade. Na pauta, uma matéria sobre as possibilidades de uma marca com esta proposta ecológica vingar aqui no mercado brasileiro - mas vamos deixar este assunto para um outro post.

No encontro entre dois surfistas perto de um pico com ondas, nada mais natural do que começar com uma sessão de surf antes de aprofundar a conversa. A presença das baleias na praia logo virou o assunto principal, especialmente quando o hermano argentino Nicolas Oberst Kadgien se juntou a nós. Radicado no sul da ilha há vários verões, este soul surfer está tão empolgado em interagir com as baleias, que passou a registrar a presença delas na região para produzir um filme sobre o tema - confiram o blog dele aqui.


Paul e Nicolas

A praia estava praticamente deserta na bela manhã de sol, mas o surf não estava lá essas coisas. Em pouco tempo fomos atraídos a abandonar a espera pelas séries fechantes e remar um pouco mais para o fundo onde uma enorme baleia franca estacionara com o seu filhote a tiracolo e docilmente acompanhava a nossa aproximação, quase imóvel.

É dificil descrever a energia que se estabeleceu ao nos vermos tão perto do maior mamífero marinho que existe e sentir como se estivessemos interagindo olhos nos olhos com esta criatura ancestral. Mais uma meia dúzia de braçadas seria possível tocar a sua pele grossa e escura, mas não queriamos de nenhuma maneira despertar algum incômodo no animal, que apenas piscava os seus olhos e ocasionalmente expelia a sua famosa borrifada de água.



Interessante também foi pensar que até o início dos anos 70 esta espécie foi quase extinta pelo homem, que se aproveitava justamente da docilidade da baleia franca para capturá-la em busca do seu óleo que servia como combustível para lampiões e posteriormente para a construção civil. Praias como a do Matadeiro, há poucos quilômetros de onde estavamos, receberam este nome justamente por ser o local onde as baleias eram sacrificadas, numa prática que promovia um verdadeiro banho de sangue no mar.



Mas os tempos mudaram e hoje existe um projeto de preservação da Baleia Franca e até um turismo voltado à observação das mesmas, que a cada inverno retornam em maior quantidade em sua rota migratória. Quem surfa por estas bandas, certamente já se acostumou a presenciar a chegada delas perto da costa, muitas vezes estacionando por longos períodos, ou promovendo espetáculos ornamentais com o enorme corpo quase saindo inteiramente da água a cada salto.

Neste mesmo dia, na Praia do Sol, em Laguna (cerca de 200 km ao sul), uma outra baleia franca agonizava encalhada na areia, após dias de tentativas frustradas de um reboque de volta ao alto mar, num evento que mobilizou toda a comunidade da região (leia aqui). Mas o fato é que na maioria das vezes, quando as baleias encalham na costa é porque já estão adoecidas, como foi o caso desta.



Já estive muito próximo a baleias, mas não tanto quanto desta vez. E como bem disse o Paul num post que publicou em seu site, nós surfistas somos privilegiados em poder interagir de forma tão intensa com esta verdadeira força da natureza e experimentar uma emoção que muitos apenas vislumbram ao observar o espetáculo das baleias da areia da praia.



Voltamos para a praia para pegar as câmeras e corremos empolgados como crianças num parque de diversões, afim de voltar ao outside a tempo de registrar de perto a presença dos cetéceos - da areia haviamos contado duas baleias adultas e um filhote. Nesta segunda aproximação, da qual editei o pequeno vídeo acima batizado de "Whale Tale" (Conto da baleia), elas estavam em movimento e a adrenalina crescia toda vez que elas aceleravam o ritmo e ficavamos muito próximos à sua cauda encoberta que poderia vir a tona a qualquer momento.



Nicolas observou que elas pareciam como "hipopótamos marinhos" toda vez que viamos apenas a ponta da cabeça e as costas emergirem - e a verdade é que em muitos momentos é dificil ter uma noção do real tamanho da baleia o que transforma cada aparição em uma nova descarga de adrenalina.



De volta à areia, a sensação era de que haviamos dropado altas ondas, numa memorável sessão de surf. O certo é que a magnitude destas baleias só reforça a nossa insignificância perante a grandeza do oceano e sua fauna submersa. Estar próximo a elas é estar mais conectado à própria vida.



créditos fotos 1 e 5: Paul Mattsson.
Trilha do vídeo: "Whale Tale" cedida por GVS Tracks
www.soundcloud.com/gvs

7 comentários:

Anônimo disse...

FANTASTICOOOO !!!
Muito boa a matéria Luciano ! Acho que é a primeira vez que alguem documenta este tipo de encontros entre surfistas e baleias em Floripa ...
Abraçao

Tomas

cosmonauta disse...

Esta foi uma grande experiência! Algo que é raro e certamente especial, faz pensar em várias coisas importantes. O tempo da natureza é infinitamente maior do que julgamos. Muito bom ler este relato, ainda mais que também estou nesta ilha!
Altas ondas, abraço!

Bruno disse...

Nunca foi feito um registro que relacionasse tão bem o surfe e seus adeptos com a visita destes seres tão belos que são as baleias.

Realmente, quem nunca teve a oportunidade de fazer uma sessão e ter a presença de uma baleia não sabe a emoção e descarga de adrenalina que é fazê-lo. Tive a oportunidade de surfar uma bela manhã com altas ondas na praia do Moçambique na presença de uma bela baleia fêmea e seu filhote com mais 3 pessoas, as 6:30h.

Com certeza uma session memorável a qual me aproximou muito mais da natureza e me fez pensar na real filosofia da prática do surf, o verdadeiro soul surf.

Com certeza fez todos vocês pensarem o mesmo nesta sessio na praia da Solidão.

Parabéns pelo novo post, nem preciso dizer que está irado!

Anônimo disse...

Muito diferente "das baleias" que somos obrigados a conviver...O escritório natural também dispensa comentários; daqui do ar condicionado, computadores e roupas sociais, consegui por segundos sentir "soul surfer felling". Parabéns.

lin. disse...

Cara, que incrível! Sem dúvida vocês estiveram muito bem acompanhados na Praia da Solidão!

Nicolas Oberst Kadgien disse...

Buenisimo exelente!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Blog da Nativa Transportes | Tiago Cardoso | PUCPR disse...

Demais Luciano !!!

Só de ver já fiquei arrepiado, imagina ter um contato tão próximo assim com essas gigantes, deve ser inexplicável !!!

Abraço,
Tiago Cardoso
www.uponboard.com

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