Giro Portugal

18 de outubro de 2012


Já se foi dito, e aqui não sei precisar o autor original, que "o que faz uma viagem não são os lugares que visitamos, mas sim as pessoas que encontramos pelo caminho". E foi exatamente este sentimento que marcou a minha recente passagem por Portugal.



A convite do evento Greenfest, onde o filme Pegadas Salgadas foi exibido, graças à valiosa indicação do festival Surf At Lisbon, passei uma semana percorrendo locais como Lisboa, Cascais, Estoril, Costa da Caparica e Ericeira - um roteiro que foi um complemento perfeito para a minha outra visita ao país em 1999, quando conheci apenas o trecho sul entre Faro e Sagres.



Poderia ficar aqui a me debruçar em relatos pessoais detalhados de minhas aventuras por este país incrível - afinal de contas, isto ainda é um blog -, mas prefiro destacar a inestimável camaradagem que encontrei dos amigos do SAL, nas figuras de Ricardo Gonçalves (meu anfitrião oficial) e Luís Nascimento

Foram eles que me emprestaram as pranchas e me levaram para pegar ondas e ainda a explorar a animada vida noturna do Bairro Alto em Lisboa, com seus becos e vielas tomados por bares, restaurantes, clubes de jazz e sítios históricos.



Posteriormente, tive ainda o privilégio de ser acolhido por uma noite na casa de João Valente, diretor da revista Surf Portugal, que me recebeu com grande hospitalidade em sua casa na Ericeira, apesar dos muitos afazeres inerentes a cuidar, juntamente com sua esposa Sandra, de uma bela família de três filhos, sendo dois garotos menores de 5 anos.



Como jornalista, conhecer a redação da publicação conhecida como "a Bíblia do Surf Português" e uma das mais antigas da Europa foi algo significativo. Melhor ainda foi poder trocar ideias com uma figura tão simpática e culta como João e poder surfar no seu quintal, que reúne algumas das melhores ondas do continente europeu - conferindo in loco algumas paisagens clássicas, como o lineup de Ribeira D'Ilhas, tantas vezes apreciado em antigas matérias das revistas de surf brasileiras.



E aqui tive o surf novamente como o grande propulsor de tantas experiências positivas. Talvez resida aí a grande virtude do amor por deslizar sobre as ondas: o elo universal que ele forma entre os seus praticantes.  Não fosse isto, talvez minha viagem por Portugal se limitasse a percorrer o tradicional roteiro do viajante errante, perambulando pelos pontos turísticos junto a outros estrangeiros mochileiros que se conheceram no hostel onde estão hospedados.



Na companhia de verdadeiros amantes do surf, pude vivenciar por alguns momentos o que é ser surfista em Portugal e saborear da melhor forma possível os fascinantes aspectos de sua cultura, com destaque para a educação do povo, a qualidade da gastronomia e o valor da história como fator de consolidação de uma identidade cultural.



Assim, a estas figuras as quais posso hoje chamar de amigos, fica aqui o meu registro em forma de foto-legendas. Apenas mais uma forma de tentar expressar os meus  profundos e sinceros agradecimentos, pois foram eles que tornaram esta viagem tão especial. Ou como eles dizem na gíria local: uma viagem muito giro!




O municipio de Cascais, onde fiquei hospedado nas primeiras noites por conta da exibição do meu filme no vizinho Estoril, fica poucos minutos ao norte de Lisboa e é um aprazível balneário turístico frequentado em grande parte por bacanas do norte da Europa. O surf acontece apenas em ondulações potentes de sul em picos como Carcavelos, na chamada "linha", que liga Cascais à Lisboa.




Com grandes hotéis de luxo, a região atrai especialmente um público de idade mais avançada, com grande fluxo de golfistas, por conta dos muitos campos para praticar umas tacadas. Mesmo passado o movimento do verão, havia bastante turistas por lá buscando o seu lugar ao sol e curtindo a noite nas mesas dos pubs.




Cascais também abriga um Farol de Santa Marta - bem diferente daquele que conheço tão bem em Santa Catarina -, onde existe um interessante museu sobre os faróis portugueses, que fui visitar. Mais adiante está a chamada Boca do Inferno, uma impressionante fenda num penhasco, que guarda muitas histórias trágicas de suicídios e curiosidades como um registro da visita do famoso mago inglês Aleister Crowley à região, quando se encontrou com Fernando Pessoa. Mais alguns minutos ao norte havia a famosa praia do Guincho, mas infelizmente não tive tempo de chegar até lá.



A Costa da Caparica, ao sul de Lisboa cruzando o Rio Tejo, não é tida como um dos melhores sítios de surf de Portugal, apesar de ser um balneário bastante frequentado pelos surfistas. Mas foi lá que peguei as melhores ondas da viagem, logo no primeiro dia de surf, em ondas de beachbreak para os dois lados com cerca de um metro e cercadas por molhes de pedra.



A curtição foi ainda maior pelo fato de poder experimentar os instigantes equipamentos dos amigos do SAL - uma veloz Fish da marca X-Cult e uma estilosa mini-Simmons do Nico Wavegliders. Criado nestas ondas, Ricardo Gonçalves trazia na fala sorridente a velha máxima do local sobre o seu pico de estimação: "Assim como todas as praias, a Caparica também tem os seus dias!"


Se a horda de turistas de toda a Europa passeava pelos pontos turísticos de Lisboa com suas câmeras fotográficas a tiracolo, por outro lado a população local tomava as ruas para protestar contra a crise econômica e todos os problemas sociais a ela associados. Assim, era impossível ficar alheio às greves diárias em diversos setores essenciais da economia e às muitas passeatas que pude presenciar.

Numa cidade onde a publicidade é bem mais controlada que os grandes centros urbanos brasileiros, as ruas de Lisboa são tomadas por toda sorte de frases espirituosas, que podem estar gravadas numa fachada, num poste ou até mesmo no chão.


 

Personagem máximo da literatura portuguesa, o poeta e escritor Fernando Pessoa  é uma figura onipresente nas ruas de sua Lisboa natal, seja nas vitrines das livrarias, ou nos cafés que frequentava, com direto a mesa reservada ou ainda estátuas como esta, na frente ao café "A Brasileira" no Largo do Chiado onde estive hospedado.




As longas direitas dos Coxos são devéras fotogênicas e é lá que João Valente faz o seu surf check todas as manhãs. Mas entrar e sair do pico não é das tarefas mais simples e por conta disso, João neste dia estava de molho, cicatrizando os arranhões de ouriço que resultaram de sua imprudência ao sair pelas pedras.

Você conhece muito de um homem pela sua coleção de livros e discos: uma amostra da extensa e instigante coleção de João Valente. Na visita à redação da revista em Ericeira, justamente no dia do lançamento da edição de outubro, João se reuniu com sua equipe formada por Diogo Alpendre, Susana Santos e Sandra Marques.


Na Ericeira estão alguns dos picos mais clássicos de Portugal, além da sede européia de grandes marcas da indústria como Quicksilver e Billabong. Ricardo Gonçalves e Luís Nascimento conferem o clássico visual das longas direitas do pointbreak de Ribeira D'Ilhas, que merecidamente tornou-se uma Reserva Mundial do Surf.

Já o título de "Meca do Surf Português" é hoje disputado com Peniche, mais ao norte, que passou a abrigar a principal etapa do circuito mundial em solo português - que aliás está rolando a pleno vapor enquanto escrevo estas linhas.

 

Em Ericeira, estive na Magic Quiver, uma das lojas de surf mais legais que já tive o prazer de conhecer. Sob o comando do simpático Rui Ribeiro, a loja reúne equipamentos e artigos culturais ligados às vertentes mais alternativas do surf (se é que vocês me entendem!). Entre eles, estas lindas aquarelas do ilustrador João Catarino, que ilustram o livro "Tanto Mar" do escritor-surfista Pedro Adão e Silva.




Mas no fim das contas, acabei adquirindo mesmo o livro "No Princípio Estava o Mar", que reúne crônicas de outro grande escritor de surf português - Gonçalo Cadilhe - ao qual tenho o prazer de acompanhar em sua coluna mensal na revista Hardcore.



Outra incursão ligada ao surf foi a inauguração da nova sede do estúdio de design Goma em Lisboa, que faz o design da Surf Portugal e abriga também o fotógrafo da revista, André Carvalho. Lá conheci pessoas interessantes e talentosas, como o videomaker Hugo Almeida que possui belas produções ligadas ao surf e skate e fez este registro do evento.



Em Portugal come-se bem e bebe-se muito bem também. Não comer bacalhau e não provar uma Ginjinha nos bares locais é deixar de experimentar os autênticos sabores locais.



Fotos de abertura por ordem: lineup Coxos; portal marítimo Lisboa; vista panorâmica de Cascais a partir da marina; João, Ricardo e Luís na Ericeira; panôramica de Ribeira D`Ilhas; vista da janela no Largo do Chiado em Lisboa; shorebreak Ericeira e surfista acelerando nos Coxos.

Se ainda queres ver mais fotos da viagem, é só clicar aqui.

4 comentários:

Anônimo disse...

Belo Post.
Obrigado por dividir com todos esta maravilhosa experiência por terras Lusas.
Deveria ter pedido aos Co-irmãos Lusitanos que devolvessem um pouco de tudo que pilharam do povo brasileiro durante a época da colonização...
Obrigado,

CAU disse...

Linda a postgem, vê se ma proxima dês um pulo aqui em casa á aqui pertinho. "No principio estava o mar" é outra viagem pois não? Abraços

Rui Ribeiro disse...

Muito bom texto Luciano. Foi um prazer conhecer-te.
Abraço

Rui

Beto Gebara disse...

Excelente Burin.
Belas fotos e ótimo relato.
Abraços.

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