Novas Experiências

3 de abril de 2017


Dizem que um dos segredos para manter-se motivado na vida é viver novas experiências, buscar sempre fazer alguma coisa pela primeira vez. Mantras de auto-ajuda a parte, não poderia deixar passar em branco o último dia 20 de março, que marcou um desses momentos inéditos, quando pude pela primeira vez surfar uma onda na Laje da Jagua, no litoral sul de Santa Catarina.

Fabiano Tissot numa linda esquerda

Quem acompanha este blog com alguma frequencia certamente já leu a respeito da relação de fascínio que tenho desde a infância com esta onda perdida em alto mar, distante 5 quilômetros da costa da praia de Jaguaruna, local frequento desde que nasci. Desde 2014 tenho participado de algumas expedições ao pico, no intuito de registrar imagens das ondas da laje para o documentário A Pedra e o Farol, e agora com as gravações encerradas, pude finalmente viver a emoção de deixar a câmera de lado e me dedicar a tentar surfar a onda.

Fabio Gouveia na sua primeira onda 'pra valer' na laje

Quem nunca esteve no pico e apenas analisa os registros das imagens divulgadas com grande frequencia e dedicação pela turma da Atow-inj, pode ter a impressão de que a onda é ruim, fraca e facilmente surfada. Para quem pensa assim, acho válida a leitura do relato completo desta última expedição, que foi narrada com riqueza de detalhes pelo mestre Fabio Gouveia em sua coluna no Waves.

A exemplo de Fia, muitos grandes surfistas que já passaram pelo pico, como Carlos Burle, Rodrigo Resende e Danilo Couto - só para citar os big riders mais respeitados do Brasil -, já falaram com respeito e admiração sobre esta onda que começou a ser surfada de tow-in em 2002 e posteriormente foi encarada na remada.

Fia e seu estilo único

Quem já participou de alguma barca para a Laje sabe dos desafios de logística e habilidades exigidos para o sucesso da empreitada. Desde a organização dos jets, pranchas, coletes e equipamentos de filmagem para formar a barca e, depois, o grande desafio de varar a intensa rebentação de mar aberto da praia da Jagua transportando toda a turma para o outside. Nas últimas expedições temos contado ainda com o auxílio de uma lancha, que se desloca da Barra de Laguna até o outside da Jagua - uma viagem de mais de uma hora - e proporciona mais segurança e a possibilidade de transportar mais pranchas e equipamentos até o pico.

Jacaré numa das melhores do dia (e eu tentando furar a placa)

Vale ressaltar que o que mais impressiona na onda da Laje da Jagua não é propriamente o tamanho da onda em si, mas sim a sua potência. Nesse contexto, remar numa onda que surge em alto mar proporciona uma emoção totalmente diferente de surfar perto da costa. Sem falar no estrondo gerado pela onda ao se precipitar sobre a bancada, algo que amplifica muito a adrenalina quando se está remando no outside sobre a rasa montanha de pedra submersa.

Fabiano Tissot termina o drop sob a vibração do amigo Jacaré no jetski

Assim, posso afirmar que a experiência de surfar a Laje da Jagua reúne todos os ingredientes de uma verdadeira aventura, exigindo bastante comprometimento físico e mental dos participantes, além de reforçar um sentimento de trabalho de equipe que poucas vezes experimentamos no surf. No nível pessoal, todo o processo de ir conhecendo a onda aos poucos até chegar este dia só tornou a experiência ainda mais especial e prazerosa.

Os registros desta sessão foram feitos pelos fotógrafos James Thisted e Rafa Shot e o video produzido por Renato Tinoco, que mostrou muita disposição e versatilidade, filmando com drone e caixa estanque dentro d'água e na lancha. As imagens mostram um swell de sudeste de tamanho mediano e período longo, que gerou séries de 8 a 10 pés demoradas e predominância de esquerdas - o que para mim estava na medida certa para uma primeira investida na remada.



Na hora de encarar as ondas, a experiência de Thiago Jacaré e Fabiano Tissot, os mais assíduos surfistas da Laje ao longo do tempo, me transmitiu muita segurança no posicionamento e na maneira de abordar a onda. Um sentimento reforçado pela presença na barca de grandes surfistas profissionais como Fabio Gouveia e Rodrigo "Pedra" Dornelles, acostumados a encarar todo tipo de condição de surf.

A expedição contava ainda com surfistas com quem já participei em outras investidas à laje, como João Baiuka, André Luiz, Carlos Piri, Gabriel Galdino e Luiz Casagrande "Sapão", além do comandante da lancha, o lendário bombeiro e pescador Beto Cavalo. Numa sessão que durou das 9 às 15 horas, todos tiveram a oportunidade de pegar boas ondas e o espírito de alegria e camaradagem esteve em alta durante todo o dia, sem nenhum incidente mais grave do que uma prancha quebrada.

Em sua segunda investida na laje, Rodrigo Pedra Dornelles mostrou muito talento no tow-in


A session começou devagar e com um inesperado vento maral. Entrei com minha FG 8,7' e logo vi que precisaria de uma prancha maior para conseguir entrar nas maiores da série e me juntar a Fia com sua 9,6' e Tissot, Baiuka e Jacaré que estavam com suas gunzeiras de mais de 10 pés.

Assim, nas primeiras duas horas no pico fiquei mais na base, observando os movimentos da turma e eventualmente consegui entrar no rabo de umas três ondas menores para sentir a prancha e a energia da onda. Destaque para Tissot, sempre posicionado mais lá fora e disposto a remar apenas nas maiores, e o desempenho de Pedra no tow-in, desenhando umas linhas incríveis e atacando o lip com muita vontade.

Pegando carona em uma das muitas esquerdas surfadas por João Baiuka


Aos poucos o mar foi melhorando e as séries ficando mais constantes e encaixadas. Algum tempo depois, Fia, que havia se jogado na remada em umas boas esquerdas, resolveu experimentar umas ondas de tow-in e me deixou com a sua 9,6'"tarugo" para que eu pudesse ganhar mais velocidade na remada.

Foi aí que eu consegui entrar numa onda de verdade botando pra baixo e sendo engolido pela pesada espuma ao final drop. Ao voltar a tona depois de uma bela chachoalhada, a emoção do momento e as lembranças de toda uma vida observando aquela espuminha branca no horizonte me fizeram vibrar de alegria e adrenalina. Um sentimento pleno de estar vivo e de sentir a energia do oceano.


Momentos que fazem todo o esforço valer a pena

Mas a maior emoção viria um tempo depois, quando não consegui entrar na primeira onda de uma das maiores séries do dia e então me vi remando para fugir da onda que vinha atrás. Nunca me esquecerei da visão daquela sólida esquerda emparedada de 10 pés, na qual Thiago Jacaré vinha acelerando pra fugir do pesado lip que se projetava em alta velocidade. Quando percebi que não teria como furar aquela maçaroca, fui obrigado a largar a prancha no último instante e ela quase atingiu Jacaré ao rodar de volta com o lip. Por sorte, foi só um susto e ninguém, se machucou.




Esta foi provavelmente a maior onda surfada durante a sessão: Jacaré na onda e eu remando pra salvar minha pele!

Já descansando na lancha, totalmente exausto ao final da sessão, os comandantes estavam fissurados no movimento das águas que sinalizavam a presença de alguns cardumes e decidiram tentar a sorte com o anzol. Logo eles pescaram algo que parecia grande criando uma comoção a bordo. No duelo entre homem e peixe que se seguiu, de repente recebíamos na lancha um lindo atum de oito quilos para delírio de todos a bordo. Mais uma experiência inédita que vou guardar para sempre em minha memória.

Baiuka exibe o atum pescado

Voltando ao surf na laje, é certo que esta onda ainda não foi registrada em todo o seu potencial e que em tempos de XXL e limites sendo quebrados constantemente em ondas muito maiores ao redor do planeta, é muito difícil hoje em dia as pessoas mais ligadas no surf se impressionarem muito com estes registros. O que posso dizer, é que todos os participantes estavam bastante empolgados e felizes com a expedição durante a confraternização em terra firme após um dia intenso em alto mar.

No fim das contas, acredito que a emoção do surf reside neste desafio pessoal de cada um em testar os seus limites em busca da emoção de surfar ondas diferentes, não importando muito se o fato em questão foi registrado ou se alguém além de você se impressionou com o seu feito. Afinal, o importante mesmo é viver novas experiências.

Galera confraternizando após um dia de grandes emoções

  Fotos: James Thisted e Rafa Shot.  Agradecimentos: Thiago Jacaré e Atow-inj




3 comentários:

Anônimo disse...

Show mais uma swell de gala entre amigos muita vibe e adrenalina pura na temida onda da Laje da Jagua.

Thiago Jacaré disse...

Alohaaaaa ihuuuu

Coyote Blue disse...

emocionante!!

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