O Poder de Impressionar

19 de janeiro de 2010



De volta ao monitoramento diário das principais mídias de surf em busca de novas pautas e acontecimentos, percebo que estou ficando um pouco insensível às imagens da cobertura de mais um swell histórico nas ilhas havaianas.

Seria esta uma conseqüência natural do excesso de informação que acaba tornando banais algumas imagens de alto impacto? Uma análise das manchetes nos principais sites de surf permitem analisar a questão.

No Surfline, o destaque é para a sequencia do surfista Mark Mathews pegando “o tubo da vida” em Jaws. No Waves, sou informado de que os cariocas Felipe “Gordo”Cesarano e Yan Guimarães surfaram a maior série do dia em Waimea Bay e entraram na briga pelo Billabong XXL. No mesmo site, Sylvio Mancusi oferece mais uma reportagem sobre a rotina dos big riders nesta temporada havaiana, com destaque para o mesmo big swell em Waimea.

Ok, não há como negar que os registros são legais. Mas com tanta cobertura quase em tempo real de tantos surfistas destemidos em busca de um lugar ao sol (da luz dos holofotes!), oferecida por um número cada vez maior de pessoas dedicadas a captar imagens de surf, fica fácil se acostumar a ver estes registros de ondas grandes diariamente na tela do computador.

Ao observarmos o intenso crowd nestas sessões em Waimea, chegamos até o ponto de pensar que “o mar nem estava tão grande assim”, diminuindo a relevância dos slides que passam na tela do computador - principalmente depois dos inúmeros registros alucinantes da última edição do Eddie Aikau. A impressão é que, por estarmos tão habituados a ver periodicamente imagens do big surf havaiano, fica cada vez mais difícil se surpreender verdadeiramente com um novo ângulo ou imagem.



Em entrevista ainda inédita para o Surf & Cult, o experiente fotógrafo Bruno Lemos, com quase 20 temporadas havaianas nas costas, compartilha um pouco deste sentimento: “Acho que as vezes, por estar aqui há tanto tempo , tudo parece tão igual e tão normal que acabo perdendo o feeling de algumas coisas. Até hoje fico revendo fotos antigas da decada de 70 e é tudo muito parecido”, revela ele, que emplacou a bela foto de capa na última edição da Blackwater.

Talvez a magia de se impressionar com uma imagem de surf fique mesmo reservada para a experiência de folhear uma boa revista de surf, onde o tratamento artístico das imagens muitas vezes transmite um feeling a mais, colocando a fotografia dentro de um contexto todo especial. Ainda assim, dentro da pouco criativa "regra" de mostrar anualmente o melhor da temporada no North Shore, a sensaçào inevitável é de que estamos vendo um pouco "mais do mesmo" ao passar os olhos por algumas revistas de surf.

Mas navegando mais a fundo pela grande rede, chego ao sempre esperto blog Goiabada do Júlio Adler e vejo que nem tudo esta perdido: o registro da performance do garoto prodígio Gabriel Medina no último Mundial Pro Junior, literalmente voando sobre as merrecas mexidas em North Narrabeen, me salta aos olhos e produz a empolgação que tanto buscava nas notícias das big waves.



Apesar de não me entusiasmar muito com o surf competitivo, a força de atração destas imagens fica por conta da fluidez do surf apresentado por um surfista de apenas 16 anos, cuja velocidade e técnica parecem apontar para um caminho inovador e, portanto, estimulante. Percebo assim, que tanto faz se as imagens não estão em alta qualidade e as ondas sem graça: minha sensibilidade para o surf resiste e se manifesta diante do novo.

Um comentário:

JeannFM disse...

Tenho um sentimento parecido, gosto muito de fotografar, tinha (ainda tenho) intuito de comprar uma camera este ano, mas as imagens que vejo já não me saltam os olhos, sinto falta de algo MAIS, algo ousado.
Minha opinião é que falta arte, olhares novos.
Mas em quanto não surge alguem disposto a exibir, ficaremos olhando para os mesmos tubos de sempre.

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