Sanidade

17 de junho de 2010



sábado_12/06

Uma vez vi em um filme, do qual não me lembro o nome, a cena em que um prisioneiro recém libertado de uma longa temporada na solitária conta ao colega de cela que poderia ficar a vida inteira preso naquela solidão extrema de isolamento e escuridão totais, pois tinha na música uma arma infalível para jamais perder a sua sanidade.

Lembrei disso no último fim de semana (de 12 a 14 de junho) quando pude acompanhar de camarote mais um forte swell que atingiu o litoral de Florianópolis. A proibição do surf por conta da pesca da tainha e meu estado físico debilitado me deixaram inertes em uma varanda como um prisioneiro de luxo bem em frente ao Costão do Santinho.

Com o passar das horas e dos dias, a angustia de não poder cair na água foi sendo substituída pelo simples prazer de deixar a imaginação fluir nas paredes de cada onda que passava vazia diante dos meus olhos, com tubos, rasgadas, floaters impossíveis e até mesmo vacas sinistras.



domingo_13/06

Numa analogia com o tal personagem do filme, assim como o camarada que encontra na música um instrumento de redenção e sanidade diante de qualquer adversidade, aqueles que cultivam o poder transformador do surf em suas veias conseguem manter-se "espiritualmente surfando" mesmo quando não estão fisicamente dentro d`água.

Assim, do balanço de sábado, com espumas revoltas ganhando intensidade, ao domingo de leve brisa terral e ondulação forte de sudeste virando pra leste, culminando com a visão das paredes rápidas e tubulares de segunda feira varendo o costão direito da praia, posso afirmar que, de alguma maneira, eu surfei um bocado de ondas neste dias.

A literatura do surf está cheia de depoimentos que atestam este sentimento, como o questionamento do poeta Pepê Cézar: "Um surfista olhando o mar está vendo ou está sendo?" que abria por muito tempo o blog Goiabada do Júlio Adler; ou a declaração definitiva do Shaun Tomson: "Eu vou pegar uma onda todos os dias, mesmo que seja na minha mente", que está em destaque no blog Surf4ever do colega Gustavo Otto.



segunda_14/06

No caminho de volta pro meu apartamento sem vista para o mar, dirijo pela estrada sereno, como quem acabou de curtir uma bela surf trip de fim de semana, lembrando dos 03 dias em que espiei da janela os cíclicos tempos do oceano em constante mutação... dos 03 dias em que surfei muitas ondas apenas com a força do olhar... e só uma pergunta ousou inquietar a minha mente: será que estou ficando velho?!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails