Cadeia Produtiva

21 de junho de 2011



Texto da coluna Surf & Cult publicada na edição 106 do Jornal Drop:


Quantas pessoas vivem direta ou indiretamente do surf atualmente em Florianópolis? A resposta a esta pergunta é muito difícil de precisar, mas ao longo da produção do documentário Pegadas Salgadas, onde tive a oportunidade de entrevistar diversas figuras da ilha que tem na indústria do surf a sua atividade profissional, pude comprovar a influência ampla e decisiva que a paixão pelas ondas provocou no cenário sócio-econômico da cidade ao longo das últimas décadas.



Se pensarmos somente no surf como esporte profissional, cuja explosão ocorreu na segunda metade dos anos 80, já temos aí um universo extenso de atividades que se alimentam do circuito de campeonatos, como juízes, dirigentes, promotores de eventos, beach marshall, técnicos, locutores, fotógrafos, montadores de palanque, segurança aquatica, equipe de transmissão pela internet e, obviamente, os próprios atletas.

De acordo com o presidente da Federação Catarinense de Surf - Fecasurf, Fred Leite, havia mais de 40 profissionais envolvidos diretamente na organização da primeira etapa do Circuito Profissional Catarinense que ocorreu no mês de março na Praia da Joaquina.



O segmento de vestuário, conhecido como surfwear, movimenta uma outra importante cadeia produtiva, com o pessoal que trabalha em lojas e confecções voltadas ao surf. Somam-se a isso os acessórios essenciais, como cordinha, roupa de borracha e capas de prancha, para alimentar uma indústria sólida e que alcança um público de simpatizantes que vai muito além da comunidade daqueles que realmente praticam o esporte.



E se a prancha é o equipamento fundamental do surfista, o que não falta são pessoas dedicadas a fabricá-las, ao ponto de hoje Floripa ser considerada a cidade com mais fábricas de pranchas per capita no Brasil (e talvez no mundo).

Neste universo, que vai da produção de “fundo de quintal” até as fábricas com equipamentos modernos, vale destacar as especialidades dentro do processo ainda altamente artesanal de uma prancha de surf, que envolve, além do shaper, profissionais dedicados exclusivamente à laminação, lixação e pintura de uma prancha. Alguns deles, como o laminador Kong, do Canto da Lagoa, conseguem ganhar a vida há muitos anos apenas consertando pranchas avariadas.

As escolinhas de surf espalhadas por quase todas as praias surfáveis da ilha também retratam este fenômeno de popularização do surf. De acordo com o presidente da Associação Catarinense de Escolas de Surf –ACES, Roger Souto Mayor, hoje existem cerca de 50 pessoas que ganham a vida profissionalmente em Floripa como instrutores e auxiliares nas escolinhas de surf.



O surf é também um dos poucos esportes a ter uma mídia especializada tão consistente, com revistas, jornais, sites, blogs e programas de tv dedicados exclusivamente ao ato de deslizar sobre as ondas, que são fonte de emprego para fotógrafos, jornalistas, produtores, editores e cinegrafistas. Floripa possui seus próprios veículos locais, como o Drop, bem como diversos serviços de informação sobre as condições do mar, uma atividade essencial comandada pelos chamados surf-repórteres.



Ampliando o leque, se formos pensar nos empregos indiretos que o surf trouxe para Floripa, teriamos que tentar mensurar toda a influência turística do esporte sobre regiões interias da cidade, como a Lagoa da Conceição e o Campeche. Nelas, vemos que o apelo do surf fomentou uma extensa rede de serviços com hotéis, restaurantes e pousadas, que tem nos surfistas de fora que vem à Floripa em busca das ondas, o seu público principal. E para os nativos que desejam viajar para outros picos de surf pelo mundo afora, hoje já existe uma agência de viagens ezpecializada em realizar a utopia maxima do surf, na busca da tão sonhada “onda perfeita”.



É fato que muitos reclamam (com razão) que a excessiva exploração comercial do surf gera um impacto negativo no aumento do crowd e na aceleração da destruição das belezas naturais de Floripa, com a ocupação desordenada do litoral.

Por outro lado, é importante ter em conta que é esta mesma popularização do esporte que permite que tanta gente apaixonada pelo surf possa ter hoje uma vida profissional relacionada ao mundo das ondas. E esta dualidade entre a essência perdida nos tempos românticos do surf, com as possibilidades criadas pelo seu sucesso como atividade profissional e comercial, de certa maneira representa o desafio atual do crescimento de Floripa como um paraíso ameaçado.

Neste cenário, cabe aos surfistas assumirem a sua parcela de responsabilidade para um crescimento sustentável da cidade que escolheram para trabalhar e surfar, preservando assim, o estilo de vida que torna o surf algo tão especial.


Clique aqui para conferir na íntegra a edição 106 do Drop.

Créditos: Reprodução da capa, contracapa e coluna Surf & Cult do Drop / Frames do filme Pegadas Salgadas: premiação da segunda etapa do Catarinense Pro na Praia Mole / loja Sul Nativo da Lagoa / produção de prancha na oficina da Tropical Brasil / fotógrafo Basilio Ruy trabalhando no palanque da primeira etapa do Catarinense Pro na Joaquina

2 comentários:

Anônimo disse...

FLORIPA SURF CITY !!!!
BOA NOTA !
FORTE ABRACO!

Anônimo disse...

O texto tá bom!
Mas a foto que ilustra a coluna é de São Chico.
Mas o texto não é sobre Floripa?
Não tem jeito. Coisas do Drop...

Máurio Borges

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