Carona Amiga

23 de maio de 2012


O  forte swell deste início de semana na praia da Joaquina em Florianópolis e uma visita à Laje de Jaguaruna poucos dias atrás me fizeram refletir um pouco sobre os caminhos do surf de ondas grandes nos últimos tempos e para onde ele parece seguir.



Desde a popularização do surf rebocado a partir do final dos anos 90, a relação dos surfistas com as grandes ondulações ganhou uma nova dinâmica. De um lado, a possibilidade oferecida pelas motos aquáticas de finalmante surfarmos lajes distantes da costa e entrar em ondas cuja dimensão e velocidade suplantavam a força da remada comum. Do outro, a banalização do tow-in, com o ronco barulhento dos motores dos jets e suas marolas com cheiro de óleo impregnando os line-ups em ondas não tão grandes assim, despertando a ira da galera que entrou pra surfar na remada.




"A regra de segurança é basica: onde tiver alguém surfando de remada na costa, não pode haver ninguém fazendo tow-in", afirmou a mim há alguns anos o experiente big rider Rodrigo Resende, quando questionado sobre o perigo dos jets zanzando perto do crowd.

Mas a verdade é que muitas vezes o critério de avaliação sobre qual tipo de condição é mais propícia para tow-in ou o surf de remada será subjetivo, já que muitas vezes, mesmo varando a arrebentação, os surfistas na remada não conseguem surfar pra valer as maiores e melhores ondas em um determinado mar.


Esta premissa ganhou ainda mais corpo nos últimos tempos, já que o surf de remada  alcançou um novo patamar, juntando a evolução dos equipamentos e o impeto cada vez mais destemido dos surfistas que se dedicam quase que exclusivamente a dropar as maiores ondas do planeta - o advento do surf de remada em Jaws é talvez o melhor exemplo disso. Neste cenário, os jet-skis sairam de moda, perdendo cada vez mais espaço no outside, embora permaneçam com valioso item de segurança para a modalidade em dias extremos.


Mas afinal de contas, o jet-ski é herói ou vilão nesta história? Na barca realizada para a Laje da Jagua, a convite de Thiago Jacaré de Atow-inj e com a participação de duplas de tow-in de Garopaba e da Guartda do Embaú, o swell não entrou com a intensidade esperada e a onda de alto mar quebrava menor do que as que tivemos que varar na própria costa.


Assim, foi interessante observar nas conversas do grupo a disposição de alguns em encarar as ondas da laje na remada e em pranchas de stand-up-paddle (foto acima), em sintonia com a valorização desse tipo de abordagem em detrimento do tow-in. Seja como for, teremos sempre a presença dos jet-skis como ferramentas essenciais para se chegar a picos a Laje da Jagua e surfar as suas ondas oceânicas, localizadas à quilometros da costa.


Dias depois, o swell entrou pra valer e a praia da Joaquina em Floripa oferecia o seguinte cenário:  ondulação de sudeste com séries acima de 8 pés e pouco vento. No line-up, uma boa leva de surfistas de remada no canto esquerdo conviviam em harmônia e espírito colaborativo com algumas duplas de tow-in que surfavam mais para o meio da praia.



Quem se aventurava a tentar entrar no mar na remada pela praia era quase sempre varrido  impiedosamente de volta para a areia. Os mais destemidos se jogavam das pedras cortando um valioso caminho para o outside, mas correndo o risco de ser jogado contra as rochas pelas espumas que explodiam no costão, onde uma pequena multidão se aglomerava para curtir o espetáculo das ondas. Na praia, uma outra leva de surfstas aguardava a boa vontade de alguns pilotos dos jet skis para conseguir uma carona até o outside, sem o esforço e o desgaste da remada.



E assim, em um pico como a Joaquina, onde não existe propriamente um canal para se varar a rebentação, a presença dos jet-skis ao invés de atrapalhar a vida dos surfistas de remada, funcionava como uma verdadeira tábua da salvação para os muitos camaradas que só conseguiram surfar as enormes paredes de água graças a ajuda das motos aquáticas que os levaram até o outside, por entre as espumas e a forte corrente .

Talvez algum big rider mais purista tenha ficado chateado em compartilhar um line-up de ondas de responsa com dezenas de outros surfistas que só estavam lá graças a ajuda dos jet-skis. E assim, parece que enterramos de vez o tempo em que o extraordinário esforço da remada e a coragem de se jogar das pedras ditavam quem podia ou não surfar num mar épico. O tempo em que o oceano oferecia uma seleção natural para um seleto grupo de surfistas destemidos poderem saborear a recompensa de surfar ondas gigantes e sem crowd. 

Fotos na praia da Joaquina e Laje da Jagua por Surf & Cult. 
Proibida a reprodução das fotos sem citação com link para esta matéria.



2 comentários:

Felipe Siebert disse...

otimo texto Luciano... e para completar, os pescadores resolveram agora que a gente não pode mais surfar as merrequinhas longas da pinheira e ponta das canas...

Na proxima vou entrar na água com um facão e não quero nem saber...

Anônimo disse...

Amigo e parceiro!

Bom texto, mas as ondas na Joaca e na Mole tinham 10 pés pela manhã e séries de 12 pés - ao longo do dia com a maré mais cheia - foram avistadas e surfadas, embora nas fotos q postasse para ilustrar o texto estejam mais para 8 pés... Gravei uma noticia sobre o teu texto pra rádio S365[O]OMUNDO.

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