5 Pra 1: Petterson Thomaz

27 de setembro de 2016



O catarinense Petterson Thomaz é integrante do seleto grupo de surfistas que consegue manter uma carreira profissional sem participar do circuito de competições. Alheio à disputa por pontos e notas em baterias, nos últimos anos ele explorou com sucesso um caminho artístico ligado ao surf, para assim trazer o tão desejado "retorno de mídia" para os seus patrocinadores.

Inspirado na talentosa geração de videomakers surgida no litoral norte catarinense onde vive, Petterson tem se destacado nos últimos anos com na produção própria de filmes, fotografias e clipes de surf registrando as suas viagens e de seus amigos pelo mundo e publicados em seu website Hand Baggage. Mais recentemente, ele também tem se dedicado à organização do evento Eau Salée, um festival que une filmes, artes e música em Joinville (SC) e chega à sua segunda edição nos próximos dias 07 e 08 de outubro. 




1 - Me conta um pouco sobre o que é o Eau Salée, como surgiu a ideia, quem está envolvido e o que você destaca nesta edição 2016?

O Eau Salée ano passado foi um evento em que eu e mais dois amigos Lucas Bittencourt e Gustavo Piaz lançamos 4 curta metragens, tivemos um artista e duas bandas e a idéia desde o início era juntar esses elementos (bandas, artistas, produções) em um ambiente só, almejando o desenvolvimento e reconhecimento do trabalho de surfistas, videomakers e das diversas formas de expressão que envolvem nosso esporte, principalmente na nossa região que nunca teve um evento com esse direcionamento.

Este ano acrescentamos "Festival" no nome do evento, justamente por ter formato de dois dias, maior número de atrações; 10 curta metragens, foodtrucks, uma feirinha com alguns “stands”, artistas de diversos cantos do estado e 4 atrações musicais, Nathan Malagoli e banda, Gunabera, Sergio Lamarca e DJ Shaka.



2 - Em relação à estética e conteúdo, quais as tuas referências recentes e antigas no universo dos filmes e das artes, dentro e fora do surf? Como elas aparecem nos teus filmes e quais os objetivos que você busca alcançar quando planeja uma nova produção?

Desde muito novo assistia muito os filmes do Taylor Steele e acredito que esse “cara” abriu portas para o mercado em que os “freesurfers” estão inseridos hoje, ajudando no desenvolvimento de surfistas e levando fitas cassete com a geração “Momentum” para o mundo todo. Hoje gosto muito dos trabalhos do Joe G., Kai Neville, Dion Agius, John John, das produções do Matt Meola e Albee Layer e outros gringos que são referência pra muita gente quando o assunto é estética e performance, tem uma galera produzindo conteúdo de primeira.

No Brasil, posso citar vários amigos e diretores que são sinistros. Para mim a turma de BC (Balneário Camboriú): Pablo Aguiar, Bruno Tessari e Michelangelo Bernardoni são três desses que tudo que fazem, seja na moda, no surf ou em qualquer segmento arrebentam muito, o trabalho dessa turma é diferenciado. Nas minhas produções tento sempre focar na performance com músicas que instigam pro surf mesmo, um som mais pesado e ao mesmo tempo mesclando com lifestyle ou coisas além do surf. No meu projeto “De Passagem” tenho focado bastante nesse ponto, alguns detalhes que acontecem nas viagens que em um clipe somente de performance não se percebe tanto.




3 - Hoje vivemos imersos num mundo repleto de estímulos visuais, onde as pessoas cada vez mais consomem imagens nas pequenas telas de smartphones e parecem não ter paciência para assistir a mais de dois minutos seguidos de um filme. Qual a sua visão sobre este processo e como ele afeta a produção de um evento como o Eau Salée Festival e as tuas produções audiovisuais?

No Eau Salée Festival temos os dois tipos de produções, algumas mais curtas e outras mais longas, e por ser festival e as pessoas irem até ele justamente por tudo que ele envolve, acredito que isso não influencie tanto. Se a pessoa quer assistir só 2 minutos ali dentro do festival, ela vai ter opção, porém a maior parte das produções serão inéditas ou ainda não foram liberadas na internet gratuitamente, então a expectativa é muito maior.

Nas minhas produções o tempo e a estética variam muito conforme o objetivo da produção. O projeto “De Passagem”, por exemplo, não tem uma regra geral, pode haver episódios com 3 minutos ou de 6, o que vale é o conteúdo e ficarei muito mais feliz se 2 mil pessoas assistirem um conteúdo envolvendo o surf e a viagem de 6 minutos do que ter o dobro de visualizações em um clipe de 1 minuto no Instagram.

Hoje se eu quero um vídeo curto e com mais acesso é fácil fazer algo direcionado somente para as mídias rápidas. Um detalhe que sempre acho válido para vídeos de surf é você conseguir prender a atenção do público nos primeiros minutos do clipe, assim, certamente a pessoa irá assistir até o final a produção.




4 - Quais os teus planos futuros como surfista na frente e por trás das lentes?

Amo muito surfar e pretendo fazer isso até não conseguir mais. Se for como freesurfer profissional como vivo hoje, melhor. Isso que pretendo explorar muito ainda, seja me aperfeiçoando nas manobras, nos tubos ou na técnica, não importa a idade sempre tem como evoluir em algum aspecto. Junto com nosso esporte existe também um universo paralelo, com uma infinidade de segmentos a se explorar.

O Eau Salée Festival é um fragmento desse universo que além de ajudar muitos produtores e dar uma experiência única ao público consigo também mostrar meu trabalho dentro da água e fora dela. Então, as expectativas são boas para os próximos anos, mais alguns projetos se encaminhando e o melhor de tudo é que o público que consome esse estilo de vida é que também irá se beneficiar com eles. Minha vida está muito ligada ao surf, então seja como surfista, na frente ou por trás das lentes sempre estarei buscando algo ligado ao nosso esporte.




5 - Se você tivesse uma verba ilimitada para produzir algum trabalho audiovisual relacionado ao surf o que você faria?

Eu convidaria os amigos Icaro Rodrigues, Yago Dora e Franklin Serpa para me ensinarem um pouco de suas técnicas brutais em Macarronis nas Mentawais (risos). Claro que com um time de primeira atrás das lentes, com certeza alguns desses amigos diretores que citei acima com o equipamento a escolha deles. Ah, já que pode tudo contrataria também alguns amigos na Indonésia pra nos levar a ondas inexploradas com o melhor barco, sabe aqueles que tem jetski, internet, comida de primeira e tudo mais. Acho que deixando essa galera a vontade poderia sair algo bem interessante!


Créditos das fotos: William Zimmerman e Bruno Zanin



5 Pra 1: Bruno Zanin

19 de setembro de 2016


O Surf & Cult retoma sua proposta original de compartilhar e dar visibilidade a trabalhos inspiradores de pessoas que orbitam em torno do surf e suas manifestações culturais. Assim, estreamos neste post a série de entrevistas batizada de “5 Pra 1”, com cinco perguntas para o filmmaker Bruno Zanin, que vem se destacando com um trabalho consistente de curtas-metragens independentes com surfistas brasileiros de alto calibre, como os recentes vídeos com Lucas Silveira e Yuri Gonçalves.

As trilhas sonoras roqueiras e os cenários paradisíacos da Indonésia são ingredientes marcantes no trabalho autoral de Bruno, que iniciou sua trajetória na Guarda do Embaú com o incentivo do saudoso surfista Ricardo dos Santos. Depois de trabalhar em algumas produções do Canal OFF, ele passou a se dedicar de forma independente a registrar os surfistas brasileiros em suas surf-trips, o que gerou o filme "When Your Dream Speaks" e muitos curtas que fazem sucesso na internet.

Radicado em Floripa e adepto ao modelo autoral de "produtora de um homem só" tão comum aos diretores de filmes de surf, Bruno tem no bom humor e na humildade características marcantes em sua personalidade, o que o fez colecionar amigos no mundo das ondas e a manter viva a produção nacional de filmes de surf, apesar das muitas dificuldades encontradas por quem se aventura nessa área. 



1 - Conta um pouco sobre a tua relação com a Indonésia e como foi a sua temporada lá este ano?

Lembro da primeira vez que fui em 2012, só para surfar e curtir, e foi amor a primeira vista! A Indonésia pra mim se tornou um dos lugares mais especiais do mundo, eu me sinto em casa e muito a vontade por lá! A vibe, as ondas, as paisagens e o tratamento que você tem por lá, acho muito difícil encontrar em algum outro lugar do mundo. Isso tem me balançado bastante sempre que estou por lá, a vontade de ficar morando no por lá está bem grande! Quem sabe num futuro próximo! (risos).

Cada temporada tem sido muito especial, ano passado tive a sorte de estar no swell épico de Kandui, e esse ano com certeza vivi meus melhores momentos como filmmaker de surf,  foram incontáveis as ondulações que bateram nas ilhas da indonésia nos proporcionando muito show de talentosos surfistas! Todos os dias antes de dormir ainda penso de como tenho sorte de fazer o que amo e de o quão boa foi essa ultima temporada por lá.


2 - Qual equipamento você usou e qual foi o teu planejamento para as produções que realizou por lá?

O início desse ano foi bem complicado pra mim, 1 mês antes de viajar para Indonésia, durante uma SurfTrip para o uruguai, tive todos os meus equipamentos roubados.. quase 40 mil reais em lentes, câmera, malas, etc... Foram 3 anos de trabalho pela janela, literalmente. Tudo aconteceu de uma forma muito sinistra enquanto estávamos dormindo, aquilo me deixou muito desanimado e triste. Então, vi todos meus amigos me ajudando, e aquilo me deu um gás animal, fizemos festas, conseguimos doações online, pedi empréstimos pro banco, ajuda do 'PaiTrocinio' hehehe e acabou que consegui comprar um equipamento de qualidade para trabalhar nessa temporada!

Já tinha meio que algumas trips fechadas por la, teria algumas semanas de trabalho garantidas que me renderiam uma grana legal para pagar parte dos empréstimos, e no final da temporada eu praticamente não tive tempo livre Graças a Deus! Acabava uma trip, já encaixava outra e por assim foi fluindo!! De equipamento eu usei uma SONY A7S, Duplicador, 100-400 Canon , 24-105 e uma 50mm 1.4. Acho que esse é um kit básico pra surf e lifestyle!



3 - Como seleciona as trilhas sonoras e qual a importância delas nos teus videos?

Eu lembro que quando era pequeno, conhecia as musicas não pelo nome das bandas, e sim por ''A qual filme de surf esta música pertence'' e isso me marcava muito! Tento fazer isso com meus clipes, que as pessoas escutem as musicas e lembrem do meu video! Que se sintam instigadas pela performance dos atletas e a musica em conjunto.. As musicas dos filmes mais antigos eram muito instigantes, com o passar do tempo isso foi se perdendo um pouco, não me adaptei muito a essas musicas modernas.

Mas também,  isso é um pouco subjetivo. Eu me considero um cara mais clássico e acho que o surf "power" precisa de um bom rock'n'roll acompanhando, além do que eu fui criado escutando musica boa e muito rock, meus irmãos, meus pais, meu padrinho, foram grandes influencias nas minhas trilhas que eu uso, sei que eles acompanham meus trabalhos, e sei também que vão ser os primeiros a criticarem quando a musica não for boa! (risos) Graças a Deus nunca reclamaram!



4 - Teus últimos trabalhos tem sido curta-metragens focados em um determinado surfista. Como você avalia os formatos atuais das produções ligadas ao surf e quais os seus planos futuros dentro deste segmento? 

Eu tenho consumido muito video pela web, e tem muita coisa boa sendo feita... Acho que os videos estão ficando mais curtos, acho que as pessoas estão perdendo um pouco de paciência de ficar olhando o mesmo video por tantos minutos.. Eu fico um pouco triste com isso, pois eu tenho feito videos mais curtos agora também pensando nisso, e os últimos clips que fiz do Yuri e Lucas sobraram MUITA onda de reject, que daria pra fazer o clipe duas vezes maior e com muita performance mesmo assim.

Eu sou um cara que gosto de passar horas assistindo videos e observando os mínimos detalhes, gosto de aprender muito com cada produção! O ultimo que chamou bastante a minha atenção foi o "Sorria" do Gabriel Novis, filmmaker brasileiro que vive nos Estados Unidos. O filme me chamou bastante atenção pela fotografia e trilha sonora bem diferente e bem foda ao mesmo tempo!

Estou escrevendo o projeto para meu primeiro "longa". Vai ser algo mais clássico, um filme com sessões separadas dos atletas, trilha sonora pra frente, com bastante humor! No filme quero encaixar o FUTURO, o PASSADO e o PRESENTE! Ou seja, sessões com Fabio Gouveia, Grilão e outros ídolos que marcaram época, alguma sessão com os groms que estão dando o que falar ( Matheus Herdy, Lucas Vicente etc) E sessões com nossos atuais guerreiros do Tour! Não sei se consegui explicar direito aqui o que eu penso, mas na minha cabeça as coisas criaram uma forma bem legal, agora e terminar de escrever, correr atrás de apoio e tentar tirar o projeto do papel!

5 - Se você tivesse uma verba ilimitada para produzir algum trabalho audiovisual relacionado ao surf o que você faria?

Verba ilimitada? Faria esse meu projeto que esta em minha mente, só que pagaria todos os meus amigos profissionais da área para filmarem e trabalharem junto comigo no projeto, com as melhores câmeras do mundo, nas melhores ondas, com muita cerveja e vibe boa, eu tenho certeza que o filme ficaria muito foda! (risos) Essa pergunta ate me fez sonhar aqui, quem sabe um dia!

 fotos: Bruno em G-Land por William Zimmermann





Vivência Cinematográfica

1 de setembro de 2016


A convite dos organizadores do Lagoa Surfe Arte, evento dedicado à cultura surf que terá sua segunda edição realizada no final do mês de outubro em Floripa, assumi o desafio de coordenar uma Oficina de Produção Audiovisual de Surfe, dentro da programação do evento - que inclui ainda um festival de filmes de surf, exposições, palestras e oficinas de produção de moda e fabricação de pranchas.

Destinado a cinegrafistas e produtores audiovisuais (amadores ou profissionais) que tenham interesse em produzir conteúdos ligados ao surf, a oficina será realizada em três dias de aulas teóricas e práticas, incluindo uma saída de filmagem com surfistas profissionais em uma praia de Floripa. O curta-metragem coletivo produzido pelos participantes durante a oficina será exibido em tela grande no Cinema do CIC dentro da programação do festival, fechando um ciclo completo de realização.

Não me considero propriamente um diretor de filmes de surfe, nem tampouco um cinegrafista profissional, então convoquei para esta missão um grupo de colegas que considero altamente capacitados neste universo, para exporem a parte prática e teórica da captação de imagens, edição e finalização de um filmes de surf. São eles: Loic Wirth, Pablo Aguiar e Mark Daniel, além da assistência do videomaker Fabiano Sperotto, um dos organizadores do LSA.


 

Já publiquei aqui no Surf & Cult e em publicações especializadas algumas matérias sobre a produção audiovisual ligada ao surf e seus realizadores, como "Água Salgada nas Retinas" e "Um Novo Olhar" destacando o trabalho deste time de peso e seus antecessores que pavimentaram o caminho.

Assim, minha contribuição será oferecer um panorama sobre a produção de filmes de surfe ao longo do tempo, oferecendo uma reflexão crítica sobre o que se produz e quais objetivos são possíveis e interessantes de seguir. Neste sentido, explorar as formas de roteiro e conceituação de uma obra me parece um processo fundamental para que os participantes sejam estimulados encontrarem a "sua voz" e o "seu olhar” original dentro deste segmento - algo cada vez mais necessário em um mundo saturado de imagens e estímulos visuais.



É fato que hoje em dia é possível aprender quase tudo na vida assistindo a tutoriais na internet, e isso inclui a parte técnica de operação de câmeras, edição e tratamento de imagens. Então qual o sentido de realizar uma oficina como esta? A resposta resumida em uma palavra poderia ser: "Vivência", no sentido de oferecer a cada participante a oportunidade de conhecer de perto e ouvir as histórias de alguns profissionais consolidados na produção audiovisual de surf, além de fazer amizade com colegas com interesses afins em um ambiente inspirador como o espaço O Sítio, na Lagoa da Conceição.

Mas a vivência certamente fica muito mais rica quando inclui atividades práticas e interativas. Assim, a equipe aceitou o desafio proposto de proporcionar aos participantes uma experiência de criação audiovisual coletiva, desde a concepção do roteiro, passando pela captação de imagens de ação e todo o processo de montagem, edição e finalização do material. Tudo isso num espaço de três dias que prometem ser intensos para todos os envolvidos!


Mais informações: http://www.lagoasurfearte.com.br/oficina-cinema
Inscrições pelo email: oficinaslsa2016@gmail.com
foto de abertura: Gabriel Pesse



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