Entre o Céu e o Mar

16 de outubro de 2015



Quando lancei o trailer do documentário A Pedra e o Farol recebi nos comentários do Facebook o link para um curta-metragem chamado Cabo Polônio - Entre o Céu e o Mar do fotógrafo uruguaio Gabriel Varalla, vulgo "Guel", com o seguinte comentário: "Deixo aqui o link para um filhote meu, já algo velho e não é de surfe... mas é parente por parte de farol e naufrágios".

Conheci o Guel num curso de fotografia de surf em Floripa com o Sebastian Rojas da revista Fluir em 2010. Da galera que fez o curso ele mostrou-se o mais dedicado e desde então venho acompanhando a sua prolífica trajetória como fotógrafo aquático, primeiro em Garopaba e hoje em Floripa, onde Guel é uma figura querida e conhecida dos surfistas, marcando presença quase diária no lineup do Campeche - onde faz fotos da galera e luta para conseguir o merecido retorno financeiro pela sua produção fotográfica.




Fui surpreendido pela faceta cineasta de Guel e seu documentário poético rodado em película 35mm em preto e branco e lançado no distante ano de 1998, com recursos do Prêmio Estímulo 1996 (SP), produzido junto com a diretora de fotografia Andréa Scansani. "Foi uma bela loucura, rodado em 3 pra 1", explica Guel, que passou algumas semanas na icônica e isolada comunidade pesqueira no litoral uruguaio e enfrentou as contingências de se filmar em película com baixo orçamento.




De imediato senti uma conexão muito forte com o curta Cabo Polonio e a ideia artística que sempre tive para o documentário A Pedra e o Farol, na proposta de mostrar a fragilidade humana perante as forças maiores da natureza. Um contexto também explorado por Guel ao enfatizar elementos como a solidão e a aridez da paisagem, os ciclos do tempo evidenciados pelos pujantes movimentos da natureza local e a maravilhosa trilha sonora contemplativa de Daniel Viglietti, que são trabalhados de modo a criar um atmosfera onírica e atemporal.

O resultado é uma narrativa simples e ao mesmo tempo profunda, que ganha ainda mais força dramática com a estética do preto e branco e os cenários descampados do Cabo Polônio - que guardam semelhanças e se revelam ainda mais desolados quando comparados aos cenários do Cabo de Santa Marta, onde rodei A Pedra e o Farol.



"Estreamos o filme no próprio Cabo Polonio, para a população de residentes, pescadores e suas famílias, os protagonistas. Depois passou no festival de curtas em SP, festival de Curitiba, com prêmios de melhor doc e melhor fotografia; selecionado para La Havana e no festival de Montevidéu", conta Guel, que me prometeu publicar uma nova versão com legendas em português.  "Botamos grana em cima e contamos com muitas colaborações para torná-lo viável... é filho único e muito amado", completa Guel sobre não ter produzido mais obras audiovisuais depois dessa.



Frente a sintonia entre os dois trabalhos e as paisagens documentadas, respondi a Guel que Cabo Polonio é mesmo um filme irmão de A Pedra e o Farol e que a oportunidade de assistir a esta obra, mesmo já estando no processo adiantado de edição do meu documentário, serviu de grande inspiração para buscar me aprofundar ainda mais neste tipo de experiência sensorial que ele alcançou em seu filme.

crédito: Ricardo de Jesus
    

confira aqui mais um pouco do trabalho do Guel

Um comentário:

Unknown disse...

Um quê de Antonioni... obrigado por compartilhar

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