Ignorância e Êxtase

20 de março de 2012




Acho que com este texto vou correr o risco de chafurdar nessas cansativas e inúteis discussões sobre quem é o melhor surfista do mundo, mas vamos lá:

A molecada que começa a se interessar por música acaba caindo naqueles questionamentos pueris sobre "quem é o melhor guitarrista do mundo" e coisa e tal. Se partirmos do principio que o surf, assim como a música, é também uma expressão artística, e que existem vários estilos de surf de acordo com as condições de onda, equipamento e abordagem, nunca haverá o tal "melhor surfista do mundo".

O fato é que algumas músicas nos remetem à contemplação e outras nos motivam a simplesmente "querer sair quebrando tudo". O mesmo vale para o surf, com suas múltiplas, e por vezes antagônicas, facetas.



Escrevo toda esta ladainha porque nos últimos dias assisti a estes dois clipes de surf acima, que tiveram este efeito de me fazer "querer sair quebrando tudo" (no caso, as ondas), em meio à enxurrada de videos que nos chegam diariamente.

De um lado, o garoto prodígio brasileiro Gabriel Medina, capturado pelas lentes do Grupo Sal em toda a sua jovialidade descompromissada durante a última temporada havaiana. Do outro, o já não tão jovem, sempre incensado e contestado "rebelde sem causa" Dane Reynolds com mais uma de suas artísticas produções pessoais.

Bom, mas afinal qual dos dois é o melhor surfista do mundo na atualidade? Numa análise fria, nenhum dos dois, pois os números estão todos do lado do eterno Kelly Slater. Mas num mundo volátil como o de hoje em que tudo é rapidamente engolido pelo tempo, sou da opinião que o epíteto de "melhor surfista do momento" deve ser daquele cujo desempenho mais consegue te surpreender e empolgar.



Medina ou Dane? As duas performances saltam aos olhos pela imprevisibilidade, força e comprometimento de cada manobra executada e é melhor falar das semelhanças entre os protagonistas do que das suas diferenças, haja vista que os dois surfistas em questão tem idades bem distintas (Dane 26 e Gabriel apenas 18), e isto conta muito em termos de aprimoramento técnico.

A mim, pouco importa se o Dane faz esse jogo de surfista de alma que fugiu do tour em busca de uma possível "pureza perdida". Também pouco importa se o Medina acabar frustrando o sonho brasileiro de finalmente termos um campeão mundial. O que vale é o que eles fazem hoje dentro d`água.



Dito isto, o que me faz exaltar o surf destes dois camaradas são os suspiros de incredulidade e risadas nervosas que seus vídeos conseguiram provocar, varrendo-me, em alguns instantes de êxtase, do marasmo habitual (também conhecido como "zona de conforto") em que me encontrava em frente à viciante tela do computador.

Assim, expressões como "selvageria" e "ignorância" foram palavras que exclamei espontaneamente enquanto assistia às manobras executadas por esses dois... ignorantes! Daí lembrei também daquela música do Ramones, "Ignorance is Bliss" (A Ignorância é o Êxtase) e apliquei a ela um novo significado.

2 comentários:

Felipe Siebert disse...

Boa Luciano. É possivel perceber claramente o cara que tem o talento natural, que varia as manobras e tem um surf mais "livre". Os que não tem, treinam por mêses uma unica manobra, esaiadinha, sempre igual...

Caio ALves. disse...

Ainda fico bestificado, quando vejo um rotulo do tipo "melhor do mundo", surf é pura essencia, liberdade, harmonia... É duro termos que classificar, mas gostei da abordagem da materia, Boa Luciano.

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