Um Vício Saudável?!

19 de janeiro de 2011



A estréia oficial da coluna
Surf & Cult na Revista Parafina é para mim um motivo de muita satisfação, já que me permite contribuir diretamente com uma publicação que se empenha em transmitir valores positivos e essenciais que tornam o surf uma atividade tão inebriante. E é justamente no questionamento sobre a possibilidade do surf ser considerado um "vício saudável" que gira o primeiro texto desta parceria, que você pode conferir abaixo, ou nas páginas 120-124 da edição 33 da revista. Boa leitura!



Certa vez, em uma conversa casual, um senhor de 60 anos que nunca subiu numa prancha de surf me questionou intrigado sobre os motivos que levam tantos jovens a serem fascinados por esta atividade a ponto de terem suas vidas praticamente moldadas em torno das ondas.

Em minha resposta acabei por comparar o surf a um vício, apesar da conotação negativa desta palavra. Não tanto uma dependência química como o álcool ou as demais drogas licitas e ilícitas, mas talvez algo mais psicológico como a dependência em jogos de azar. Seja como for é fato que a falta de surf provoca sérios distúrbios de humor em seus praticantes mais fissurados e poucos resistem a se jogar no mar, nem que seja pra pegar umas marolas de jacaré numa água congelante, só pra se sentirem vivos e realizados com o poder de cura do contato com o oceano.

E será que podemos dizer que existe a possibilidade do surf ser um “vício saudável”? Como em quase tudo na vida, se soubermos evitar os excessos, estaremos no caminho do equilíbrio. Por experiência própria, qualquer que seja o destino litorâneo, ou mesmo no mergulho em uma lagoa ou piscina, me pego viajando em qualquer balanço de água que se assemelhe minimamente com uma onda surfável. Pior ainda é o sofrimento de chegarmos a uma praia com boas ondas quebrando e por algum motivo qualquer não podermos entrar na água. Nestas infelizes ocasiões, qualquer tentativa de relaxamento cai por água ao passarmos pela torturante experiência de estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe de nossa realização suprema.



E mesmo quando estamos nos últimos dias de uma inesquecível surf trip, esta ânsia latente e irremediável despertada pelo surf teima em nos assolar, ganhando todos os requisitos de um vício, uma vez que, mesmo após uma dose intensa de boas ondas em um mar clássico, o surfista dependente nunca estará 100% saciado, visto que, passado o efeito da dose, vai querer sempre mais do mesmo.

Os litorais do mundo afora estão cheios de surfistas que abriram mão de muitas oportunidades e direcionamentos possíveis de trabalho e família em suas vidas abandonando gradativamente tudo aquilo que fosse obstáculo para poder manter a dose diária de surf. Recentemente escrevi uma matéria sobre Adilson Cupim, um lendário e polêmico surfista local da praia do Campeche em Florianópolis que, segundo consta, tem entrado no mar religiosamente todos os dias para pegar algumas ondas nos últimos 34 anos. Logo me lembrei que na costa da Califórnia existe um outro camarada tão fissurado quanto ele chamado Dale Webster, que tem surfado pelo menos 3 ondas todos os dias há 35 anos e está prestes a atingir a marca recorde de 13 mil dias surfados consecutivamente.

Ao adentrarmos neste terreno de quebra de recordes, vemos que o surf pode assumir uma verdadeira conotação de patologia, quando um insano como Bill Laitty resolve ficar mais de 26 horas surfando com sua prancha em Huntington Beach, numa verdadeira overdose surfística registrada pelo famoso Guinness Book, que se dedica a catalogar maluquices desta natureza. Em um caso extremo como este, registrado no último mês de novembro, a diversão associada ao surf deixa de existir por completo e vira tão somente um masoquismo sem sentido.



Se o surf é uma droga que vicia seria prudente aprendermos a enfrentar com serenidade a chamada “síndrome de abstinência”, cujo efeito mais brando pode ser um mau humor danado. Uma revista especializada ou um bom filme de surf podem funcionar como bons paliativos no alívio da falta de água salgada na pele. Aos mais desesperados resta a esperança de que com o amadurecimento natural do corpo e da mente possamos nos dar conta de que apenas observar da areia algumas ondas passeando pelo oceano pode ser quase tão bom quanto estar lá dentro com uma prancha. Sem contar nos tantos outros prazeres e afazeres que fazem a vida ter um sentido mais completo, pois o surf por si só nunca irá preencher para sempre a vida de ninguém.

Foto de abertura: Dead Pixels - by Coda

2 comentários:

alexandre Santana disse...

Conheci esse blog através a revista parafina, adorei o blog desde as matérias ao videos produzido pelo site, conheci A uma luz no fim do tubo, conheci o aproveitamente de uma prancha antiga para fazer uma nova, bem o blog é demais.
Esse ano fiz 34 anos comprei minha 9,4 long e quero muito apreender a surfa, que muito surfar todo dia, quando eu conseguir realizar esse sonho, realmente vou ser um cara 100% feliz, este ano quero me dedicar a esse projeto, sempre amei surf desde de que me conheço por gente, agora é hora de realizar um dos meu sonhos, o maior é um dia surfa na indonésia aqueles tudo de longos, quem sabe eu chego lá.

Xandão de São Paulo ( alesc77@hotmail.com)

Anônimo disse...

Excelente,., com certeza o surfe 'e um vicio para mim...
agora no Chile... altas ondas mesmooo

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